27.3.05

Mensagem pascal

Deixando as amêndoas e os ovos de chocolate de lado por instantes, cabe fazer aqui uma singela referência à quadra que atravessamos. Hoje em dia, feriado religioso que se preze só merece consideração se tiver direito a programação especial nos nossos canais de televisão. A Páscoa tem esse privilégio e a RTP transmitiu ao longo de dias uma dramatização (mais uma) da vida de Jesus Cristo, guardando o último episódio para o Domingo de Páscoa, o que demonstra grande visão estratégica e à-vontade com o calendário.
Na promoção desta série sobre o Salvador, o locutor diz qualquer coisa como "Nos momentos de maior necessidade, é o nome dele que chamamos," mostrando-se, em seguida, um soldado em pleno campo de batalha, berrando "JESUS!"
Está muito bem. Bem pensado. Apela à emoção. Mas não posso evitar levantar outra questão. Há quem chame por Jesus em momentos de aflição mas há outras entidades que também são muito populares em circunstâncias idênticas e são frequentemente evocadas.

Pergunto: Por uma questão de justiça, para quando uma dramatização da vida de "FODA-SE"?

25.3.05

Eu já sabia. Juro.



Nesta Sexta-Feira Santa, é tempo de pôr as amêndoas de lado e prestar atenção ao mundo que nos rodeia. Cidadãos politicamente informados e conscientes. Cidadãos activos e preocupados. Cidadãos que opinam. Vamos a fazer de conta que sempre soubemos que existia um país chamado Quirguistão, que sempre soubemos onde fica e que estamos perfeitamente a par da sua história recente e interessados q.b. na sua vida política. Já o conseguimos fazer no passado a respeito de outros assuntos e vamos conseguir fazê-lo outra vez. Afinal, somos portugueses, raios!

24.3.05

Perfilados

No portal do governo (passe a publicidade), ainda que não seja quinta-feira, o primeiro-ministro reúne simpaticamente todos os ministros na mesma página.
Com excepção do número um, atestando a solidão terrível do poder, os dezasseis do décimo sétimo resolveram empilhar-se (por uma questão de design?) em inescrutáveis parelhas ministeriais. Assim, é preciso fazer scroll para apanhar o carro-vassoura da Cultura e dos Assuntos Parlamentares, esses sacrificados bottom-benchers do choque tecnológico: depois das Finanças e da Presidência, o governo mergulha, segundo a minha resolução de ecrã, num estado puramente virtual. Sinto que o velho Bispo de Berkeley teria aqui qualquer coisa para dizer. Mas adiante.

Ora acontece que, ao lado de cada fotografia e mesmo por baixo do nome, um link promete o respectivo perfil. Sendo o flagrante apanhado mais ou menos de frente, seria de esperar que a nova página acomodasse o visado na postura anunciada. Erro e desilusão de principiante: trata-se apenas da biografia.

É feio não cumprir o que se promete. Mas, acima de tudo, o País não pode ter dúvidas quando for convocado para a inevitável acareação. Por isso, ministros de frente, de perfil e, se nao se importam, de costas também. Já.

23.3.05

Ninguém os agarra!

No novo código da estrada: "Os agentes de polícia passam a poder desrespeitar sempre regras e sinais, independentemente da urgência da missão."

Os agentes da polícia não deviam ser punidos por abusar sexualmente de menores.
Os agentes da polícia deviam poder comprar árbitros.
As agentes da polícia e as esposas dos agentes da polícia deviam poder interromper voluntariamente a gravidez.
Se fosse eu que mandasse os agentes da polícia podiam fugir ao fisco.
Os agentes da polícia deviam poder bater nas pessoas.
Os agentes da polícia deviam poder cuspir no chão.
E mijar nas esquinas.
E ser mal-criados.
E passar à frente nas filas dos super-mercados, das bombas de gasolina, das finanças, do pão e das bilheteiras dos estádios.
Os agentes da polícia são piores que o Mourinho, toda a gente lhes deve e ninguém lhes paga!

20.3.05

A seca vista por Andy Warhol jr

Ou como é difícil não brincar com problemas sérios num país em que se fazem dramas constantes por qualquer ninharia.

17.3.05

O vago País

No Alqueva, falta ainda construir treze barragens e não sei quantos quilómetros de tubagens para que aquele vasto lençol de água sirva para alguma coisa - além de se evaporar. São ainda muitos milhões de euros e muitos anos até que tudo fique pronto.
Mas não foi este o País embriagado que ergueu estádios quase da noite para o dia? Foi - mostrem-me mais um desígnio nacional e eu saco lesto da pistola.

Entretanto, o Alentejo e o resto da nação rural vão secando, longitudinalmente estirados como bacalhau ao sol. Alguns responsáveis (termo generoso) passam pela televisão e falam em medidas urgentes - é tudo sempre urgente, sempre ansioso, caramba. O Presidente, como é seu hábito, irrita-se em vão e contagia o cidadão. Os agricultores querem dinheiro e compensações. Tristes vacas atravessam o ecrã. Outro responsável acrescenta inutilidades. Volta o habitual conselho para poupar água - e parece que ela se perde mais é nas condutas de transporte. A meteorologia acena com meses terríveis. Vem aí o calor e os fogos abrasadores em plena época balnear. O noticiário ameaça entrar na apoteose do futebol.
Há qualquer maldição irrevogável em tudo isto. Começa também a doer-me a cabeça.

O programa do governo, segundo os analistas, é vago. Como o País. O governo, esse, paira num estado engraçado de silêncio e circunspecção. Tão novo e tão grave. E, todavia, imprudente: depois dos excessos ruidosos, faz-nos mal tamanha privação e tão de repente. Na ressaca santanista, ouve-se a erva ribeirinha crescer. Só quando lhe falam de medicamentos é que ele sacode lampeiro o seu torpor de estado.

Certamente temos de esperar. Mas antes, à cautela, vou comprar aspirinas na loja de conveniência ali da esquina.

Fatinha

Fátima Felgueiras diz, no Rio de Janeiro, que quer estar presente no julgamento, que sempre pediu, e que vai estar presente no julgamento "ou então o julgamento não vai ser verdadeiro e justo." A condição para estar presente no julgamento é o levantamento da medida de coacção (a prisão preventiva, aplicada a arguidos sobre os quais recai a suspeita de que possam abandonar o país).

Dói-me a cabeça.

O último dos subversivos?

Hello, is anybody out there?

15.3.05

Nós importamo-nos. E você?









Vitorino não é ministro. Porquê?
Pagam tarde e a más horas
Não lhe deixam encomendar um Smart rosa
Preferiu ceder o lugar a uma senhora
Pretende dedicar-se ao seu blog
O parlamento é mais excitante
Deixou uns calotes em Bruxelas



12.3.05

Megafonia

Esperava-se uma espécie de upgrade, assim como do Windows 3.1 para o XP. Aparentemente, regressámos ao DOS 1.0. Há mesmo quem diga que nos aproximámos perigosamente da linguagem-máquina.

Do anterior membro há pouco a dizer, partiu para fazer aquilo que melhor sabe: servir. Agora, salta do banco o megafone, qual delicada pérola de sintaxe para os nossos ouvidos. Estaremos atentos, o som baixo, mas a suspirar por Manuel Maria - esse florentino retórico e subtil estocador.
A propósito da substituição de Magalhães por Coelho na Quadratura.

Mas como é que ninguém se tinha lembrado disso?


The idea that a digital divide separates rich countries from poor, as usually understood, is a myth. Poor countries don't need a PC in every home. What they need is more mobile phones.
The Economist

6.3.05

Foto tipo passe

Certamente encorajado pela leitura do Inimigo Público (e na impossibilidade de juntar num saco de carvão as orelhas do próprio, a ratazana morta protocolar e uma 1ª edição autografada de Maria Roma), Portas vai enviar a fotografia de Freitas do Amaral ao largo do Rato. Por correio azul, supõe-se, e com um cartão do género: "Tínhamos isto aqui pendurado, julgamos que vos pertence. Ainda está em bom estado, se descontarmos as fendas recentes, o espectacular bigode republicano e os apócrifos corninhos vermelhos".
A Sócrates, pois, o que é de Sócrates. Ao PP, a rectangular omissão na parede branca (depois das de Manuel Monteiro e de Lucas Pires?), acentuada por muitos anos de pó e desleixo popular.

Mas levanta-se uma dificuldade. Apesar de a restauração ser ofício regularmente acarinhado no Rato, a estabilidade do reboco socialista não parece recomendar o uso excessivo de pregos, de escápulas e mesmo de fita-cola.
No Caldas, espera-se ansiosamente a volta do correio: e se eles nos devolvem aquilo num rosa passe-partout? Descansem, rapazes, não chega aí o humor socialista. Quando muito, num cenário não muito distante, talvez o forward para a sede do Bloco.

4.3.05

Chega de saudade

Há governo. Este blog reencontrou a sua razão de existir (após deriva episódica e revisionista pela Pimpinha).
Mas não lhe concedemos 100 dias de graça. Não damos borlas. Não transigimos. Não capitulamos.
Embora nada substitua o Guedes, o Chaves e o Gomes da Silva - alguém sucedeu a Grouxo Marx? - confiamos na rapaziada emergente. Bem-vindos.
Silêncio no País! Fora de cena quem não é de cena (tu também, Vitorino)! Acção!

1.3.05

Pimpona



Diz assim: "Depois disto, nunca mais lhe chamem Pimpinha!"

Farta de ser reconhecida na rua só por ser filha de Cinha Jardim (que, por sua vez, é reconhecida na rua sem motivo aparente) e não querendo limitar-se a ter uma pseudo-carreira televisiva alicerçada num único mérito (ser filha da mãe), Catarina "Pimpinha" Jardim resolve mostrar ao país que a sua celebridade não é tão arbitrária como possa parecer e que tem outros talentos, nomeadamente, mamas. Já está na altura de reconhecermos o mérito a todos os portugueses que, graças a anos de trabalho afincado e dedicação sincera, conseguem ser possuidores de glândulas mamárias. Bravo! Mas, uma vez Pimpinha, sempre Pimpinha.

O país aguarda uma edição da revista Maxmen dedicada à irmã mais nova. A Parvinha Jardim, ou lá como se chama.