29.4.05

Golpes (de estado)

Na mesma página do PÚBLICO online:

À espera do golpe final
Mineiros suíços esperam pela detonação final, com a qual foram hoje concluídas as escavações do túnel de Loetschberg – o mais longo do mundo em terra. A estrutura atravessa os Alpes numa extensão de 34,6 quilómetros, ligando o Norte e o Sul da Europa, e tem como objectivo afastar os camiões das congestionadas auto-estradas helvéticas.


Túnel do Marquês com declaração ambiental favorável mas muito condicionada
O ministro do Ambiente, Nunes Correia, entende que o túnel do Marquês de Pombal, em Lisboa, não revela problemas que impeçam a sua construção, mas condiciona-a a uma série de medidas que terão agora de ser tomadas.


Eu não sei de quem é a culpa, nem me interessa. Não sei se o impacto é grande ou pequeno. Nem sei se a obra devia alguma vez ter começado.

É possível que um túnel de 34,6 quilómetros não tenha qualquer impacto ambiental?

Será que só neste país (de merda) é que se começam obras que se ficam pelos golpes iniciais, sem nunca se perceber muito bem por que raio não chegam aos (misericordiosos) finais?!

28.4.05

O poliglidiota

J. Pacheco Pereira, o homem mais inteligente do mundo, escreveu aqui que:

"Dieß ist die allem endlichen Leben anklebende Traurigkeit, und wenn auch in Gott eine wenigstens beziehungsweise unabhängige Bedingung ist, so ist in ihm selber ein Quell der Traurigkeit ... Daher der Schleier der Schwermuth, der über die ganze Natur ausgebreitet ist, die tiefe unzerstörliche Melancholie alles Lebens."

Ora, e daí? Acho que a malta já estava mais ou menos avisada, pá!

27.4.05

Sem aspas

Não é certamente Jaime Eduardo de Cook e Alvega (credo!) quem vai liderar um movimento de revolta entre aspas contra a (in)justiça portuguesa. Não, este major é outro, voa sobre a liga do norte, entre o metro e a autarquia.

Todavia, assim encaixadas por alguém que permaneceu entre as ditas os meses que todos sabemos e alguns agradecem, as agora aspas vociferadas são ao mesmo tempo um alívio e um sinal dos tempos.

Alívio: entre aspas, o major revolta-se a brincar, como os soldadinhos de chumbo, e por isso a democracia nada tem a recear. Embora cuide de emendar-se. Compreende-se a indignação: o major sufocava, rebentava até, se não se aliviasse, se não arremetesse contra as aspas do mal.

Sinal: é que estas manobras de Abril revelam, por outro lado, um pouco da própria democracia e do País (com ou sem?), truncados no juízo e na acção. Basta olhar e ver, semeadas a esmo, sem reflexão, como por todo o lado elas se intrometem e são legíveis - as apagadas e vis aspas do nosso descontentamento.

(Certas criaturas levantam os braços e espetam dois dedos de cada mão.
É sabido que
o médio e o indicador se prestam melhor à gramatical função
de estreitar ainda mais
os já breves crânios entre aspas)

E não falemos do Mundo ou da Europa, esta inimitável engenharia a 25 que o non francês a 29 se prepara para farpear com delicadas e duradouras aspas - ou não mostrasse a França sempre um jeito próprio de acenar à posteridade.

Como nunca escreveu o O'Neill, vivemos hoje

uma alegria de vírgulas em fuga
para um texto mais difícil que uma purga.

Céu nublado

Há uma feliz expressão popular, cuja origem desconheço, que me acode em certas ocasiões: "se os filhos da puta voassem nunca veríamos o sol".
Isto vem a propósito não sei do quê, não sei como nem sei porquê. Talvez por inércia.

Valentim

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Porque a justiça em Portugal não gosta de pressas, as medidas de coacção aplicadas ao Major Valentim Loureiro caducaram depois de um ano sem acusação formada. Sem perder tempo, o Major chama os jornalistas e põe tudo em pratos limpos na sala de conferências de imprensa da Liga (com os patrocinadores todos por trás porque há que pensar sempre no negócio), dizendo que foi "troféu de caça" da polícia e que "quem ri melhor é quem ri por último."

Aqui concordamos, senhor Major. Até porque o processo ainda agora começou.

Palavrório

Se alguém me puder explicar por que raio a legislação portuguesa distingue entre "actos sexuais com menores" e "actos homossexuais com menores", fico muito agradecido. É porque abusar de crianças do sexo oposto pode ser condenável mas continua a ser "d'homem"?

Antes pedófilo que paneleiro. (será isto?)

Os males do mundo

O Papa Bento XVI considera que os livros da série Harry Potter "minam a alma do Cristianismo." Primeiro o "Código Da Vinci", agora o Harry Potter. Está vista a nova orientação da Igreja. De religião de massas a clube do livro.

23.4.05

Um grande 31!



AB'IL É 'EVOLUÇÃO, CA'AGO!

19.4.05

Habemus... eeer... habemus... (*eek*)

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Zeitgeist

Sobre o "zeitgeist", palavra alemã que significa "espírito do tempo", dizia Goethe que as opiniões triufantes num período histórico acabam por definir o pensamento das pessoas que o habitam, mas sem que elas próprias se dêem conta disso. Giro, não é?

Não por acaso, vem à baila "zeitgeist" a propósito do nome que o novo Papa se atribuiu. Algum espírito está lá certamente, mas teme-se pelo tempo e pelo modo que o vão determinar. E até pelas circunstâncias em que pontificou o anterior Bento, o Papa da I Grande Guerra. À cautela, espreite-se a biografia de Giacomo della Chiesa.

Obrigado, Frank Carlucci

18.4.05

O albergue do espanhol

Ao sintetizar as prioridades da política externa portuguesa na trilogia "Espanha, Espanha e Espanha", o primeiro-ministro não esclareceu as suas implicações (diríamos ecos) nas restantes pastas governamentais. Nem no prometedor quotidiano dos Portugueses.

Este amor súbito, e em força, pelos vizinhos do lado não pareceria estranho no tempo do Eça, quando se ia para Sintra ou para o Dafundo em tipóias com espanholas. Mas pergunte-se ao Senhor P. Moura, por exemplo, quais os costumes vigentes em matéria de espanholadas.

Afastando de vez qualquer trapalhada que um alucinado projecto de reconquista certamente nos traria (sossegai, prateleiras do Corte Inglês, balcões do Santander!), supomos que o primeiro-ministro venha um dia destes anunciar que o equivalente na educação será "castelhano, castelhano e castelhano" - contrariando o prometido inglês à tenra idade; ou que na defesa nos baste "Olivença, Olivença e Olivença" para cumprir Portugal - deixando em doca seca os portais submarinos encomendados. Mas o primeiro-ministro não disse mais. Para não embaraçar o seu estado de graça.

Isto parece traduzir uma obsessão mal resolvida (uma tolice, diria o Pulido Valente) ou então é o resultado equívoco da resposta encadeada a uma tripla série de perguntas dos jornalistas: onde vai passar férias no próximo Verão? qual é o país que temos de aturar até à eternidade? onde comprou os seus últimos caramelos?

Como a última hipótese não parece verosímil, fiquemos pela obsessão.

É de esperar, por isso, que este mandato albergue como nenhum outro o fantasma em carne e osso do espanhol. Mais. Que o castelhano passe a língua de trabalho do Parlamento (perdão, Cortes) e das reuniões do governo. Que se decrete o Don como tratamento protocolar - tem a palavra o deputado D. Paco Louçã. Que as tapas e os calamares removam de vez os jaquinzinhos. Que passe na rádio os "Usted también". Que corra o Tejo ao contrário, mais o Douro e o Guadiana, levando rabelos e cacilheiros até ao impenetrável coração da Ibéria. Ou que exportemos a seca para lá da raia, juntamente com a cortiça e o café do Nabeiro. Raspe-se o Zé Povinho usurpador e eis o Sancho Pança que Bordalo indecorosamente travestiu.

Mais de seiscentos anos após o milagre do quadrado e da panificação lusitana, soa profética a "trombeta castelhana" que deu sinal em Aljubarrota: vamo-nos a eles, coño! E restaurados enfim os cognomes, Sócrates ficará como "o nosso espanhol".

O retorno deste novo desígnio nacional (mais um a somar à lista) começará a pingar no dia em que a Hola descobrir maravilhada a Quinta da Baracha. Ou que baixe a gasolina do lado de cá. Então dormiremos a sesta descansados.

16.4.05

The Bride (variante lusa)

Fraude na filarmónica

Existe um país magnífico que resiste e que não diz não. Escapa aos jornais e à televisão e, por isso, tem de se procurar com esmero e paciência. Finalmente achado, entrega-se em todo o seu esplendor.

Por exemplo: quem anda a roubar os instrumentos das nossas bandas filarmónicas? Ninguém sabe. As pessoas murmuram nomes, movimentos nocturnos suspeitos, enriquecimentos apressados. Mas, temendo as represálias, calam-se.
Fala-se de arrumadores sem escrúpulos, a soldo de uma Casa da Música precocemente arruinada, ou talvez uma rede sul-americana com ligações à Imperatriz Leopoldinense. Mas ele há tráfico internacional de fagotes? Oficinas clandestinas para reconversão de bombardinos? Ninguém sabe.
Outros insinuam a cumplicidade dos regentes, de alguns músicos ressabiados do solfejo. Que se teriam vendido ao complexo militar-industrial americano, esbulhador do metal alheio para patriots. Numa versão mais doméstica da coisa, há quem veja nisto apenas a mão de sucateiros da margem sul, que começaram a expandir-se e a diversificar.
Enfim, ninguém sabe nada, mas eles andam por aí - está a ler-me, senhor ministro da Administração Interna?

Em todo o caso, eis a lista dos mais recentes furtos:

Flauta YFL 581
Flautim YPC 62
Clarinete Buffet Crampon Prestige
Bombardino em Do Besson, prateado
Sax Tenor Selmer S80 SII prateado
Trompa de Harmonia Sib/F Jupiter dourada
Fagote Schreiber

Não há cidadão responsável que possa ignorar o drama das filarmónicas mutiladas. Bem podia a Fátima Lopes ou o Goucha levantar o problema logo de manhã. Acordar o país, agitar as consciências. O nosso contributo é deixar o alerta. Mais pormenores já a seguir.

15.4.05

Um par de questiúnculas

1-A Associação Nacional de Farmácias alerta para o facto de a liberalização da venda de medicamentos sem receita médica poder trazer um aumento considerável dos preços. Para sustentar este argumento, refere-se o facto de Portugal ter medicamentos de venda livre mais baratos do que outros países da Europa Ocidental em que as aspirinas podem ser compradas em qualquer supermercado. Se for feita uma relação entre o preço dos medicamentos referidos e os salários médios em cada país, já não será assim. Mas isso é outra cantiga e não podemos criticar os senhores farmacêuticos por quererem manter lucros elevados a todo o custo. Afinal, é o seu ganha-pão que está em causa. Até poderiam levar a coisa mais longe. Eu digo que a pomada para as picadas de insecto vendida nas grandes superfícies comerciais provocará queda de cabelo e impotência. Quem assina por baixo?

2-A Polícia Judiciária apreendeu algumas dezenas de milhar de pastilhas de ecstasy numa operação com o nome "Abril, Pastilhas Mil." É bom saber que a segurança dos cidadãos está entregue a gente tão séria e profissional.

Plim plim plim, um pianinho...



Ninguém me tira da ideia que já vi aquela Casa da Música nalgum lado. Hmmm...

14.4.05

The Bride

9.4.05

Papas que o mundo esqueceu

Sérgio III (Papa entre 897 e 911) - Amigo íntimo (muito íntimo) de duas cortesãs (mãe e filha) que alcançaram uma posição de tal maneira influente que acabaram por ser elas a governar a Igreja e os domínios territoriais do Papa. O pontificado de Sérgio deu início a um período de associação entre Papas e prostitutas que ficou conhecido como "pornocracia."

João XII (Papa entre 955 e 964) - O primeiro Papa a mudar de nome após assumir o cargo. Também foi um dos primeiros a transformar a Basílica de São João de Latrão num bordel. Além disso, ordenou bispos e cardeais em estábulos e tabernas. Morreu assassinado por um marido traído, apanhado em flagrante delito.

Alexandre VI (Papa entre 1492 e 1503) - Um dos seus maiores triunfos foi um grandioso banquete no Palácio Apostólico com mais de cinquenta prostitutas em que criados iam registando o número de orgasmos de cada conviva. No final do evento, os fornicadores mais esforçados foram premiados pelo pontífice com prendas caras.

E eu pergunto: Por que não temos direito a ver documentários e telefilmes sobre os papas realmente interessantes?

7.4.05

Choque teológico

Depois do Euro 2004 e de José Manuel Barroso (para não forçar muito a memória), outro desígnio nacional espreita à sua janela de oportunidade: a eleição de D. José Policarpo.
Desconheço a existência de qualquer lóbi (no) terreno (que estas questões não são apenas do foro espiritual) - mas suspeito que lidamos ainda e sempre com uma variante atípica do Nobel para Lobo Antunes.
À cautela, mantenha-se um Falcon em stand-by lá para os lados de Figo Maduro.

5.4.05

Pimpona II



Depois disto e porque há notícias que merecem desenvolvimento constante, eis a nova etapa da saga "Pimpinha tenta mostrar o corpo todo ao país mas aos poucos e sem parecer uma debochada pobre."

Aqui.

2.4.05

Habemus Papam?

Mais alguém reparou que este impasse à volta da morte do Papa começa a provocar na comunicação social alguns sintomas de impaciência ou mesmo irritação?

1.4.05

Viagens na minha terra

A Câmara Municipal de Lisboa suspendeu a autorização para a demolição da casa onde viveu (e morreu) Almeida Garrett depois dos protestos que se levantaram (e só por isso). A decisão final fica agora dependente de um novo parecer dos serviços culturais municipais que avaliarão se existem ou não motivos que justifiquem a conservação do edifício. Inicialmente, a Câmara entendeu que não havia justificação. Eu também entendo que não há justificação para muita coisa. Infelizmente, até às próximas autárquicas, não há nada a fazer.

Assim mesmo, como o Sampaio gosta!

A agência noticiosa italiana AGI revelou hoje que o cardeal polaco Andrzej Maria Deskur, amigo pessoal do Papa, descreveu o líder da Igreja Católica como estando a "ir-se serenamente".

No site do PÚBLICO.
Juro que durante dois segundos tive a sensação que estava com alucinações.