14.5.05

Mitos urbanos II - A síndroma de Benavente



Não há corrupção em Portugal. Ou antes: ela existe, mas truncada.
Expliquemo-nos. Um corrupto tem dois caminhos: pode ser activo ou passivo. Ou então opta pelo melhor dos dois mundos: como Janus, vira bi. Mas raramente.

Ora o que se verifica nos últimos anos é a acentuada diminuição da corrupção activa, a par do crescimento notável da corrupção passiva. O País é corrupto, sim senhor, mas passivamente. Ninguém o corrompe, ele já é. Dir-se-ia um estado de natureza, uma incompletude congénita que perturba os rankings internacionais.

Este fenómeno coloca-nos numa posição sui generis entre os países civilizados. Todos somos suspeitos de vender a alma por um punhado de euros ou outras vantagens patrimoniais (fungíveis ou não). Em teoria, as prisões estariam cheias de corruptos passivos, desacompanhados dos seus congéneres activos.

Ou vice-versa. Na verdade, o gráfico ilustra uma evolução que pode ler-se de modo simétrico. Crescem os activos, diminuem os passivos. Novamente, em teoria: as prisões estariam cheias de corruptos activos, desacompanhados dos seus congéneres passivos.

Somos um acto falhado, uns freaks.