5.10.05

O fado do autarca

Chegou-me às mãos um texto escrito pelo filho de um presidente da Junta de Freguesia de uma vila do Portugal profundo que, para além de ser uma pérola literária fascinante, constitui testemunho ímpar, comovente e certamente desinteressado de uma realidade que, muitas vezes, escapa ao comum dos cidadãos, ignorante da situação inglória e até trágica de muitos pequenos autarcas e da ingratidão que os rodeia. Passo a transcrever sem quaisquer correcções, censuras ou acréscimos (à excepção da ocultação das identidades) Espero contribuir assim para ajudar os portugueses a melhor reflectirem na natureza do poder autárquico português em véspera de eleições.


"INJUSTIÇAS NÃO...

Conterrâneos Amigos,
É com muita tristeza, que vos escrevo...
Quando olho para tudo o que o meu pai tem feito pela nossa gente e pela nossa terra, como por exemplo no associativismo, voluntariado, e Junta de Freguesia, e o vejo ser criticado por aqueles que Nada, e repito "Nada fazem de construtivo", por esta terra que ele tanto adora (o único motivo pelo qual ele está na política e não por cores partidárias nem por interesses pessoais), e que por acaso só se lembram de A. nesta altura porque lá existe uma mesa de voto, sinto uma tristeza profunda assim como toda a minha família.
Quando o meu pai entrou para a Junta, tinha o meu irmão mais velho 11 anos, eu tinha 7 anos e o meu irmão mais novo 1 ano, hoje com 23, 19 e 12 respectivamente, olhamos para trás e lembramo-nos de muitos momentos em que sentimos a falta da presença do nosso pai, porque simplesmente se encontrava ao serviço da nossa terra, até mesmo ao domingo, feriados, dias de festa em casa, etc, etc.
Não o criticamos por isso, pois melhor que ninguém conhecemos os seus sentimentos e as suas aspirações para com a nossa terra. É pois com profunda tristeza que nos deparamos com uma dúvida:
Terá valido a pena, todo este sacrifico?
É com muita pena que vejo pessoas que até julgava poder dizer "Amigos do meu pai", servirem-se de mentiras e insinuações caluniosas para denegrirem a sua imagem, e conseguirem apenas atingir os seus objectivos pessoais, que são nada mais nada menos que a ambição do poder.
Se há coisas que os meus pais e a minha formação de fé me ensinaram, foram: a honestidade, a verdade e a humildade acima de qualquer ambição ou interesse, porque: "Antes ser pobre e honesto, do que rico e desonesto."
Sabe-se lá porquê, mas algumas pessoas insinuam que o meu pai tem tido muitos benefícios por estar na Junta de Freguesia. Vejamos ao que se querem referir com os "tais benefícios":

-Será que por ventura se referem ao seu horário laboral? (oficialmente a meio tempo, ou seja 3h 30 por dia) - que na prática se traduz num conjunto de 10 a 12h diárias. Só não vê quem não quer!

-Será que se referem às deslocações que ele faz ao serviço da Junta de Freguesia, na sua própria viatura, pagando combustível do seu próprio bolso?

-Será que se referem aos sábados, domingos e feriados em que ele se encontra ao serviço da junta?

-Será que se referem a um acidente que ele teve ainda à pouco tempo, com a sua viatura, encontrando-se ao serviço da Junta de Freguesia, acidente esse que lhe "rendeu mil e tal euros em saldo negativo na sua conta"?

Amigos A...enses, decidi escrever-vos esta carta, quando me deparei com um papel, sabe-se lá feito por quem e assinado por ninguém, porque, quem diz falsidades tem medo de se identificar, que põe em questão o facto de o meu pai se encontrar a trabalhar na energia eólica. Será que essas pessoas acham, que é com à volta de 500€ (100 contos) mensais que o meu pai recebe da Junta, que nós, "cinco pessoas" podemos viver?
Não tem ele o direito de tentar melhorar a qualidade de vida da sua família?
O meu pai apenas tomou conhecimento de que precisavam de pessoas e ofereceu-se tal como o B. (colega de trabalho). E não como andaram para aí a dizer que o F. já lá tinha metido um filho e que iria meter outro. Não sei se para felicidade de alguns, mas informo que eu, P., encontro-me desempregado...
Desde que o meu pai entrou na Junta de Freguesia, já lá vão doze anos, que a nossa vida familiar tem tido muitas situações negativas, principalmente no aspecto financeiro. Mas Orgulho-me de dizer que o meu pai é uma pessoa 100% honesta e que já mais utilizou a Junta em benefício próprio. Orgulho-me ainda das suas capacidades para ir ao encontro das necessidades da Freguesia, idealizando projectos e conseguindo apoios para os mesmos. Não tem formação académica superior, mas reconheço nele tantas ou mais capacidades, que muitas pessoas que se dizem com esta formação, mostrando sempre um sorriso humilde para com todos, até mesmo para aqueles que o criticam e põem a sua dignidade em causa, apunhalando-o pelas costas.
Espero sinceramente que todos os A...enses, no próximo dia 9 de Outubro, vão exercer o seu DIREITO de voto, CONSCIENTES, do que todos os candidatos à Junta de Freguesia já fizeram pela NOSSA TERRA e do que se propõem fazer. Aí sim. Votem!

DEIXE-MOS DE LADO OS PARTIDOS...
VOTEMOS EM CONSCIÊNCIA, NAS PESSOAS QUE CONHECEMOS...


P."