19.10.05

Romantismo vs Realismo ou "O teorema literário do ananás"

"-Se houve pretexto para ela, foi da sua parte, e escolheu-o bem infame e vil. Não lho invejo. Da minha não é pretexto; é uma interrogação bem positiva e terminante. Todos os motivos anteriores, que podiam autorizar-me a procurá-lo, cessaram ante a impreterível exigência deste. Preciso de justificar-me, e por isso preciso de conhecer e de ouvir os meus acusadores.

-E imagina que sou eu quem deve auxiliá-lo na tarefa? Pelo menos menos devia escolher uma hora mais cómoda. Sabe que na Alvapenha se janta patriarcalmente ao meio-dia..."


A Morgadinha dos Canaviais, Júlio Dinis, 1868

"-Enquanto esperas, tens esse metal vil que faz a existência nobre. Instalas tua mulher, porque desde hoje é tua mulher, aqui nos Olivais ou noutro sítio, com o gosto, o conforto e a dignidade que competem a tua mulher... E deixas-te ir! Nada impede que façais essa viagem nupcial à Itália... Voltas, continuas a fumar a tua cigarette e a deixar-te ir. Este é o bom senso: é assim que pensaria o grande Sancho Pança... Que diabo tens tu naquele embrulho que cheira tão bem?

-Um ananás..."


Os Maias, Eça de Queirós, 1888