20.2.06

Nacional da Madeira

texto de José Ricardo Costa, publicado originalmente no Jornal Torrejano

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Se há equipa portuguesa com que sempre embirrei é o Nacional da Madeira. Pronto, embirro!

Se o Nacional da Madeira fosse uma pessoa e se olhasse ao espelho, perguntando: "Quem sou?", "Para onde vou?", "Qual a razão da minha existência?", estou convencido de que ficaria condenado a viver num estado de perpétua angústia existencial.

Para já, o campo onde joga é digno do campeonato afegão.

Tem o treinador mais feio da 1.ª Liga. A verdade seja dita, isto também só acontece porque Manuel Cajuda está de momento a treinar o Zamalek do Egipto e Paulo Branco decidiu ser produtor de cinema em vez de treinador de futebol.

Os jogadores mais importantes, tirando Hilário, Ávalos, Chaínho e Bruno, são todos pindéricos, tipo Serginho Baiano, Cléber, Miguelito, e assim.

Depois, e contrariamente ao Marítimo, não tem qualquer grandeza. A grandeza de um Braga, de um Vitória de Guimarães, ou até a grandeza de clubes modestos como o Portimonense, o Leixões ou o Barreirense.

Uma das coisas que sempre me intrigaram é a razão por que, sendo um clube lá da Madeira, se chama "Nacional". O Marítimo ainda tem um nome que cheira a mar e que traduz a identidade da região. Mas, "Nacional da Madeira", porquê?

Bastou, porém, ver o recente jogo com o Benfica para a taça, para finalmente obter a resposta. O Nacional é um clube nacional na verdadeira acepção da palavra.

Quando se chegou ao fim do prolongamento, o banco do Nacional festejou a ida a penalties. Isso, depois de vermos que era mesmo esse o seu objectivo. Ora, isto tem o seu quê de complexo.

No jogo não havia pontos em disputa, logo, o empate não teria qualquer valor. O Benfica vinha de duas derrotas por 3-1. Uma delas com o modesto União de Leiria. Estando o Nacional nos primeiros lugares da 1.ª Liga teria, a priori, argumentos para explorar as fragilidades de uma equipa que perde duas vezes seguidas por 3-1.

Ora, mas aí é que está uma das razões pelas quais se chama Nacional da Madeira. É porque há uma identificação absoluta entre o Nacional e a nação que representa: Portugal.

Em vez de arregaçar as mangas e tentar ganhar o jogo para não ter de enfrentar o momento sempre dramático dos penalties, preferiu jogar à defesa, não investir, deixar correr o jogo para se entregar ao destino.

Basta ver como o banco festejou o apito final do árbitro antes dos penalties. Como se já estivesse a festejar a vitória.

Se virmos bem, Portugal também funciona assim. Gostamos de esperar para ver. Nós não gostamos de arregaçar as mangas para resolver problemas. Gostamos de arregaçá-las, sim, mas para ficarmos mais à vontade enquanto esperamos que o destino nos resolva o problema.

Mas não é só nisto que o Nacional é verdadeiramente nacional.

Na classificação está entre os primeiros. Entre Porto, Sporting e Benfica. Mas como? É simples: um clube pobre e frágil como o Nacional só consegue isso graças a um artificial suporte financeiro do governo regional. Não devido ao peso real e sociológico do clube.

Ora, Portugal também é assim. O nosso desenvolvimento dos últimos anos, colocando-nos entre os mais ricos da Europa, também não representa um desenvolvimento real, sendo apenas o dinheiro da Europa que nos faz andar na mó de cima.

Tal como a nação, o Nacional é um clube pobre, mas com aparência de rico. Tem o motor de um Opel Corsa em segunda mão, mas a carroçaria de um Mercedes.

O próprio campo do Nacional é um pouco a imagem do nosso Portugal. Um país como uma paisagem cada vez mais degradada, um país de eucaliptos, de barracos com chapas de zinco, entulho e de ervas daninhas que conspurcam a nossa paisagem rural. Mais: um país onde dificilmente se anda meia dúzia de quilómetros sem dar com uma casa feia ou solenemente kitsch.

Uma pessoa vem da Europa civilizada, chega a Portugal e a sensação que tem é a de que acaba de sair do Estádio de Wembley para entrar no estádio Eng. Rui Alves, o miserável campo do Nacional da Madeira.

E aqui temos, por fim, outro dado importante. O facto de o campo se chamar "Eng. Rui Alves" é também um flagrante sinal da inequívoca ligação entre o Nacional e a nação lusitana.

Dificilmente haverá países na Europa com tantos doutores e engenheiros como em Portugal. Como sinal de identificação social, claro.

Somos escandalosamente ignorantes e iliterados, a começar por muitos dos doutores e engenheiros. Mas gostamos de nos pavonear como se fôssemos novos-ricos bielorussos ou da máfia romena.

Ora, é precisamente isso que se passa com o campo do Nacional da Madeira: um campo que é de uma pobreza confrangedora, mas que tem o título de "Engenheiro". Conhecem algum estádio na Europa civilizada com nome de engenheiro, doutor ou comendador?

O que é mais engraçado no meio de tudo isto é o facto de o campo, apesar de se chamar "Eng. Rui Alves", ser conhecido por "Estádio da Choupana".

Ora, será difícil achar mais simbolismo do que isto para retratar Portugal: um país que tem uma economia de choupana, uma produtividade de choupana, uma educação de choupana, uma cultura de choupana, mas que, olhando-se ao espelho, se sente um verdadeiro senhor engenheiro?

Fica, para a História, a vitória do Benfica, com o último penalty a ser marcado implacavelmente por Simão Sabrosa.

7 Comments:

Blogger blogadict opinou...

"... O que é mais engraçado no meio de tudo isto é o facto de o campo, apesar de se chamar "Eng. Rui Alves", ser conhecido por "Estádio da Choupana".", no more comments. Boa semana e um abraço...

7:30 da tarde  
Blogger Raimundo opinou...

"Tal como a nação, o Nacional é um clube pobre, mas com aparência de rico. Tem o motor de um Opel Corsa em segunda mão, mas a carroçaria de um Mercedes."

... mas olha que o meu Opel Corsa de 1984 comprado em segunda ou terceira mão em 92, ainda anda que se farta... gasta pouco, não faz barulho, e em quase 15 anos nunca me deixou ficar pendurado...

3:14 da manhã  
Blogger Pedro opinou...

Muito bom. Especialmente pela sagacidade.

Assinaria por baixo, não fosse este tipo de pedantismos:
"Uma pessoa vem da Europa civilizada, chega a Portugal e a sensação que tem é a de que acaba de sair do Estádio de Wembley para entrar no estádio Eng. Rui Alves, o miserável campo do Nacional da Madeira."

Onde fica esta tal de Europa civilizada?

4:43 da manhã  
Anonymous Anónimo opinou...

Voces estao é kom inveja o nacional ja teve na UEFA e os vossos clubes ai do continente n jigam nada(sem ser os grandes e o braga) ke sao os unicos ke se safam!!! Por favor n digam mal do nacional sem se olharem para o expelho digam mal antes do maritimo dox seux jogadores ke sao todos brasileiros e tem nomes tao ''pindericos'' ke vcs tb deviam comentar.


Obgado

9:48 da tarde  
Anonymous Anónimo opinou...

Que texto tão estupido, digno de quem não " estudou " antes de falar! Que tem a beleza a ver com futebol? Agora tem de haver treinadores giraços para se gostar de um clube? .. e mais um monte de asneiradas que nem perco tempo a comentar, só queria dizer que agora o Nacional tem um grande complexo desportivo, secalhar os tais bons da europa não têm as qualidades que a Choupana tem! Ah e já não é Eng. Rui Alves, e sim estadio da Madeira! Já não deves ter cotovolo de tanto o roçares, depois deste texto ao que o Nacional é agora, enfiaste tudo bem enfiado!

2:51 da manhã  
Blogger tina opinou...

faz impressao a inveja que reina entre certa gente!
o nacional da madeira é um clube com uma dimensao imensa a todos os niveis e que tem nas suas gentes uma mola impulsionadora que o faz andar sempre com os olhos postos no futuro.
é isso que muitos nao entendem!é isto que faz tanta comichao!
e o nosso estadio é lindo!
viva o nacional da madeira!

7:43 da tarde  
Anonymous Anónimo opinou...

PARA O AUTOR DO BLOG... VAI PARA O CARALHO!!!!FILHO DA PUTA!!!!

11:51 da tarde  

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