4.6.07

metáfora apressada

"Nesta altura a intervenção parlamentar não é uma corrida, mas sim uma maratona"
Francisco Louçã ao DN


Tivesse o Francisco afirmado que a intervenção parlamentar não é, por assim dizer, uma corrida, digamos, de toiros e eu permaneceria simplesmente em silêncio a remoer o Eça.

Et pourtant, de pé atrás: porque a impressão que me fica, por vezes, da deriva retórica das bancadas, é que nelas se exibem, com a galhardia que o estrangeiro nos cobiça, moços esforçados de oposição e diligentes capinhas da situação, simpáticos matadores de tédio (dos espectadores do respectivo canal) e, há que dizê-lo com preocupação, raros cachaços em que se possa cravar sem remorsos e com direito a pasodoble o difícil ferro de "inteligente" nacional (bem que eu gostaria de chegar aos calcanhares do Ary).

Mas não. O Francisco, se o DN não lhe trocou as voltas, dá a entender que a maratona, não sendo uma corrida, é... outra coisa qualquer. Corrida? Não. Podia até ser o túnel do Marquês, uma gaffe do Manuel Pinho, um difícil problema de Sudoku. Tudo menos a rápida progressão horizontal que matou um grego por causa de uma batalha. Ficamos sem saber. Mas, se o Francisco faz essa maratona ao pé coxinho, não deve esperar que alguém lhe aplauda a frescura na televisão. Porque faz batota.

Foi certamente sem dolo e por distracção. Mas, antes de mais, o Francisco acabou por desconsiderar, do Olimpo luso ainda corrente, pelo menos um caro Lopes e uma nossa Mota. Pode esquecer qualquer tempo de antena dos dois. Ora junte-lhe mais outros Carlos e tantas Rosas: sim, esses medíocres back benchers do IC19 ou da VCI que se fazem à estrada buscando a glória do anonimato. Verá que a dimensão do ultraje é assombrosa.

Lendo o Francisco, até parece que a maratona, assim desqualificada, se passeia em fato de treino de manhã, nos sábados da Caparica ou do paredão da Linha. E que assobia, entre os abastecimentos mensais, "A Ponte do Rio Kwai" ou a integral de John Philip de Sousa. Fica por explicar a dolorosa recta final dos mil restos do pelotão, já sem fôlego sequer para o primeiro compasso da A5 (tan tan tan tan...), a arrastar passos perdidos que a federação não proíbe nem estimula.

Ó Francisco, que diabo, se você não corre a maratona (não lhe sugiro que se junte às "minis"* do Sócrates), então anda atrás de quê? Não sei se quer um dia fechar a Praça Vermelha. Mesmo que se fique pela do Comércio, vá lá, calce as sapatilhas (do comércio justo, claro), ajuste o iPod (aqui já não sei dar-lhe a alternativa) e voe com o Vangelis (também tem o Lopes Graça). Eu confesso que não tenho pernas para o acompanhar. Espero por si 42 quilómetros e qualquer coisa mais à frente. À sombra, claro.

Não sendo a rapidinha americana do hectómetro ou o carrossel africano dos 5 mil, sempre é, aqui para nós, um corridinho transpirado. Não acha?


* Agradece-se o reparo do comentador: não são "meias".

2 Comments:

Anonymous Anónimo opinou...

Faz-me lembrar as Farpas do Eça e do Ramalho.Elegantemente escrito.
Gostei.

11:05 da manhã  
Blogger Samir Machel opinou...

Nao sei se ele faz meias, mas mini-maratona faz pelo menos.
:)

3:18 da tarde  

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