4.2.05

Pequenices

Está o país alvoroçado com discussões acesas sobre O DEBATE. Parece que foi coisa importante O DEBATE. Havia dois candidatos reais ao cargo de primeiro-ministro frente a frente (coisa nunca vista ou, pelo menos, coisa que não era vista há uns dois anos) e uma multidão de profissionais de uma comunicação aparentemente social com a literal pita aos saltos em antecipação do DEBATE. Findo o dito (O DEBATE, claro está), foi tempo de fazer balanços, de apurar o vencedor e o vencido. De louvar os méritos do primeiro e de desculpar as falhas do segundo que, mesmo não lhe tendo sorrido a vitória, ainda conseguiu estar menos mal neste ou naquele ponto. E O DEBATE não era um debate qualquer. Era um debate com regras. Um debate com luzinhas coloridas que acendiam e apagavam. Um debate com cronómetro. Enfim, um debate à séria que é como quem diz um debate americano sem Bush e Kerry mas com Santana e Sócrates que até têm nomes começados pela mesma letra - a aliteração é sempre uma coisa saborosa. E pensar que houve gente que morreu sem poder ver O DEBATE. Uma infelicidade tremenda.
Afinal, O DEBATE foi ou não foi importante? Foi ou não foi esclarecedor para os portugueses indecisos e a precisar de uma clarificação de posições antes de acorrerem às urnas (ou de pretenderem acorrer às urnas mas irem antes ao centro comercial comprar uns ténis para o mais novo)?
Talvez não deva ser eu a responder a esta pergunta. Percebi ontem que sofro de um problema grave de atenção pois vi o debate de fio a pavio e o que os intervenientes disseram não me pareceu em nada diferente do que dizem todos os dias à hora do jantar na televisão. O facto de estarem frente a frente e de terem um painel (devidamente bidimensional como se querem todos os painéis exceptuando os painéis em relevo) a fazer perguntas muito menos perspicazes do que poderia passar pela fronha sisuda dos jornalistas encarregues de as fazer ou pelo sorriso de charrua mutilada de Rodrigo Guedes de Carvalho ("o país e o mundo... na SIC... e na Dois... ou lá o que esta merda é...") pouco adiantou. Terá talvez permitido a muito boa gente imaginar-se num país a sério, com política a sério em vez de neste portugalzinho pequenino em que vivemos com gentinha pequenina, politiquinhos e discursozinhos de merdinha, problemazitos, polémicazuxas, jornalistinhas de caca, tudo num alegre e colorido faz de conta.

Ah... e o resultado, de acordo com o jornal "A Bola," foi Santana Lopes 2 x José Sócrates 1 (mas ainda se discute a legalidade do penalty que deu o segundo golo a Santana).

1 Comments:

Anonymous Anónimo opinou...

Tenho uma opinião parecida mas muito menos elaborada :http://canaldoesgoto.blogspot.com/2005/02/o-grande-debate-resumo.html

2:11 da manhã  

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