Saiu esta semana no
Expresso um artigo com o título
"O défice sentido no bolso". Trata-se de uma espécie de ensaio sobre os Euros que os cortes orçamentais retiram à família Lopes.
O casal de professores expõe sem pudor os seus rendimentos e despesas mensais.
Entram nos cofres da família 2898 Euros por mês, 1498 da parte do pai e 1400 da parte da mãe. São 560 (miseráveis) contos, na boa moeda antiga. São depois apresentadas as despesas, onde se podem encontrar coisas como:
360 Euros para o empréstimo bancário (é um T5 duplex, com sótão aproveitado).
120 Euros para as aulas de inglês dos miúdos (são dois).
100 Euros para a empregada de limpeza.
100 Euros para livros e CDs.
57 Euros para a TV Cabo.
Tudo junto, a família tem 2069 Euros de despesas fixas. Com as novas medidas, vê este número aumentar para 2084 Euros, sobrando-lhe apenas 814 Euros para gastar em parvoíces. É quase o dobro do ordenado mínimo, uma ninharia!
Dizem também que, com esta coisa do défice, "se calhar vamos ter que adiar mais uma vez algumas coisas, como as férias lá fora", sendo que "foram de férias ao estrangeiro apenas duas vezes - uma semana à Grécia e uma vez a Paris". Realmente, não há justiça neste planeta. Como é que alguém pode viver se não pode fazer férias lá fora?!
O pai, revoltado por ver travada a sua progressão na carreira, diz que é "avaliado com o mesmo 'satisfaz' que o professor que ontem vi a dar uma aula no jardim da minha escola, com o jornal na mão". Não me parece que exista alguma tese a respeito das diferenças de produtividade e de interesse entre as aulas dadas em jardins e aulas dadas em salas escuras e bafientas. O mesmo acontece com a influência que têm os objectos que o professor traz na mão. Ainda assim, é evidente que os alunos se vão lembrar, até ao fim dos seus dias, do professor incrivelmente competente que deu 110 aulas, monocórdicas, como vem nos livros.
Expresso aqui a minha solidariedade para com a família Lopes, e aproveito para propor uma ou duas alterações ao algoritmo orçamental deste casal infeliz, que poderão dar uma ajudinha nos cortes orçamentais de dimensão familiar:
1. Transformar os 360 Euros do T5 duplex em 200 Euros para um T3 ou T4 simplex - 160 Euros.
2. Dispensar a empregada de limpeza. É uma actividade que pode ser vista como um desporto para a Srª Lopes. Não faz mal a ninguém e até dá para perder uns quilitos. O mesmo é válido para o Sr. Lopes - 100 Euros.
3. Os miúdos não andam na escola? Os professores de inglês são assim tão maus? Ou não havia vaga nos escuteiros? - 120 Euros.
4. Acabar com essas parvoíces da Sexy Hot e da Sport Tv. - 32 Euros.
5. Levantarem-se todos os dias e repetir dez vezes a frase: "Eu não sou uma vítima!". Poupa-se o que não se gasta no psicólogo daqui a uns anos. É uma coisa a longo prazo.
6. Ler um bocadinho mais devagar e ouvir o mesmo CD pelo menos duas vezes - 50 Euros.
7. Vão para fora, cá dentro. Talvez não ajude muito, mas pelo menos vão "lá fora".
E assim, sem grande esforço, se poupam 462 Euros. Se juntarmos aos 814 que já tinham, são 1276 Euros. Foi o melhor que se pôde arranjar.
Espero, sinceramente, ter ajudado. Proponho que se exclame um "Oh!" nacional, de pena, dia 10 de Junho, pelo meio-dia.
"A working class hero is something to be
If you want to be a hero well just follow me"